Sex, 26 de julho de 2019, 11:11

Demonstração dos Fluxos de Caixa
Conceitos básicos

Por Nadielli Galvão

A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é uma importante fonte de informações sobre a capacidade da empresa gerar dinheiro vivo (caixa) bem como de quais são suas principais necessidades financeiras e como está sendo utilizado o dinheiro.

Mas, além do caixa que é o valor em espécie e depósitos bancários disponíveis, o demonstrativo ajuda a entender os equivalentes de caixa que são aquelas aplicações financeiras de curto prazo, alta liquidez e cujo risco de mudança de valor é insignificante.

Essa peça contábil subdivide a formação de caixa em três subgrupos: atividades operacionais, de investimento e de financiamento. É importante salientar que mais do que determinar o que e como registrar, o Pronunciamento Contábil 03 encoraja as empresas a utilizarem os critérios mais apropriados aos seus negócios, ou seja, fazer uso do que chamamos de essência sobre a forma.

Mas, vamos tentar entender o que vem a compor cada um desses grupos da DFC? Vamos começar pelas atividades operacionais. Compreender essa atividade é essencial para saber se a empresa tem condições de pagar empréstimos, manter sua capacidade operacional, pagar dividendos, juros sobre capital próprio e fazer novos investimentos sem precisar recorrer a financiadores externos. As principais atividades operacionais são:

- Recebimento de caixa pela venda de mercadorias e prestação de serviços

- Pagamento de caixa a fornecedores

- Pagamento de caixa pela compra de mercadorias e serviços

- Pagamentos de salários

- Pagamento de impostos

E as atividades de investimento? O que elas significam? Elas denotam o quanto a empresa está disposta a dispender em recursos com a finalidade de lucros ou fluxos de caixa futuros e estão ligadas com aquisição dos ativos que proporcionarão esses retornos a longo prazo. As principais atividades de financiamento são elencadas a seguir:

- Pagamento em caixa para adquirir ativo imobilizado, intangível e outros a longo prazo

- Pagamento em caixa relacionados aos custos de desenvolvimento de ativos de construção própria

- Recebimento e pagamentos em caixa relacionados à compra ou venda de instrumentos patrimoniais, de dívida e participações societárias

- Empréstimos feitos a terceiros (pela entrega dos recursos e recebimento dos pagamentos)

Por fim, as atividades de financiamento são aquelas relacionadas com os fornecedores de capital da entidade, por isso, constituem-se como principais exemplos:

- Caixa recebido pela emissão de ações e outros instrumentos patrimoniais

- Caixa recebido pela emissão de debêntures, empréstimos, notas promissórias

- Amortização de empréstimos e financiamentos

- Pagamento da parcela de arrendamento mercantil financeiro

Vamos praticar essa primeira parte resolvendo uma questão do Exame de Suficiência 2017.1:

Uma Sociedade Empresária comercial apresentou os seguintes dados para elaboração da Demonstração dos Fluxos de Caixa relativa ao ano de 2016:

Entradas de caixa

Recebimento por vendas de mercadorias a vista

120.000

Recebimento por venda de imóvel registrado como ativo imobilizado

50.000

Recebimento por integralização de capital

140.000

Saídas de caixa

Pagamento a fornecedores por compra de mercadorias

90.000

Pagamento de despesas administrativas

16.000

Pagamento por aquisição de veículo para uso

72.000

Pagamento do valor do principal de empréstimo bancário

120.000

O saldo de Caixa e Equivalentes de Caixa era de R$12.800,00, em 31.12.2015.

Considerando-se apenas as informações apresentadas e de acordo com a NBC TG 03 (R3) – DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA, em relação à Demonstração dos Fluxos de Caixa é CORRETO afirmar que:

a) o caixa líquido gerado pelas Atividades Operacionais é de R$14.000,00.

b) o caixa líquido gerado pelas Atividades de Investimento é de R$68.000,00.

c) o caixa líquido consumido pelas Atividades de Financiamento é de R$120.000,00.

d) o caixa líquido consumido por todas as atividades em conjunto é de R$12.000,00.

Para resolver vamos classificar cada um dos recebimentos e pagamentos!

Recebimento por venda de mercadorias a vista

ATIVIDADE OPERACIONAL

Recebimento por venda de imóvel registrado como Ativo Imobilizado

ATIVIDADE DE INVESTIMENTO

Recebimento por integralização de capital

ATIVIDADE DE FINANCIAMENTO

Pagamento a fornecedores por compra de mercadorias

ATIVIDADE OPERACIONAL

Pagamento de despesas administrativas

ATIVIDADE OPERACIONAL

Pagamento por aquisição de veículo para uso

ATIVIDADE DE INVESTIMENTO

Pagamento do valor principal do empréstimo bancário

ATIVIDADE DE FINANCIAMENTO

Dessa forma, temos a seguinte demonstração dos fluxos de caixa

Saldo inicial de caixa 12.800

ATIVIDADES OPERACIONAIS

Recebimento por venda de mercadorias a vista 120.000

Pagamento a fornecedores por compra de mercadorias (90.000)

Pagamento de despesas administrativas (16.000)

Total operacional 14.000

ATIVIDADES DE INVESTIMENTO

Recebimento por venda de imóvel 50.000

Pagamento por aquisição de veículo (72.000)

Total de investimentos -22.000

ATIVIDADE DE FINANCIAMENO

Recebimento por integralização de capital 140.000

Pagamento do valor principal de empréstimo bancário (120.000)

Total de financiamento 20.000

Saldo final de caixa 24.800

Assim, a alternativa certa é a letra A)

Mas não acaba por aqui! Temos ainda que tratar de uma segunda forma de estruturar a DFC. Até agora vimos o método DIRETO. E por que DIRETO? Pois ele apresenta as principais classes de recebimentos brutos e pagamentos brutos de caixa. Mas, temos que ver agora o MÉTODO INDIRETO, onde o lucro líquido ou prejuízo é ajustado por meio de transações que não afetam o caixa. É o que? Não entendeu, né? Pois bem, esse método pega o seu lucro líquido e faz uma conciliação dele com itens como despesas que não afetam o caixa e variações ocorridas nas contas de ativos operacionais. Ressalta-se que esse modo de elaborar a DFC só afeta as atividades operacionais, pois as atividades de investimento e financiamento são apresentadas da mesma forma que no método direto.

Agora eu imagino o que você deve estar se perguntando: Professora, se já estava confuso antes, imagine agora! Mas que itens são esses que preciso levar em conta??? Calma, vou colocar aqui uma tabela pra te ajudar. Mas antes raciocine comigo: existem despesas que afetam nosso lucro, mas NUNCA serão pagas, ou seja, NUNCA ‘afetarão’ nosso caixa. Por exemplo, a depreciação. Você já fez algum boleto, carnê, fatura pra pagar a depreciação do veículo da sua empresa? Não! Pois é, mas ela está lá diminuindo o teu lucro e apesar de nunca afetar DIRETAMENTE o seu caixa ela afeta INDIRETAMENTE. E como é isso? Primeiro, se ela DIMINUI o lucro, então ela consequentemente ajuda a DIMINUIR o Imposto de Renda sobre o Lucro, não é? Sim! E como ela ajuda a diminuir o imposto então ela está colaborando para que saia menos dinheiro do caixa, entende? Sim! Logo, para fins de CAIXA, a depreciação é uma despesa boa, pois afeta positivamente, mesmo que de forma indireta.

Por isso, na DFC, pelo método indireto devemos colocar o valor da depreciação de forma POSITIVA, ou seja, SOMANDO, por que para o caixa ela algo favorável. Mas, a depreciação é apenas um dos exemplos de contas de resultado que não aumentam/diminuem diretamente o caixa mas que precisam ser conciliadas no método indireto. Confira a seguir:

Elementos do resultado

Impacto na DFC

Despesa com depreciação

Aumento

Despesa com Método de Equivalência Patrimonial

Aumento

Despesa financeira não paga

Aumento

Receita com método de equivalência patrimonial

Diminuição

Ganhos cambiais não realizados

Diminuição

Lucro na venda de ativo imobilizado

Diminuição

Prejuízo na venda de ativo imobilizado

Aumento

Esses são apenas alguns exemplos. Cada empresa, conforme suas principais transações, apresentará itens que constam no resultado e não resultam em saídas e entradas diretas no caixa e deverão ajustar o lucro na DFC elaborada pelo método indireto.

Mas não acabou aqui! Falta só mais um passo. Temos que ver as variações nos ativos e passivos operacionais de um período para o outro. Que ativos e passivos operacionais são esses? Os principais exemplos são: Estoques, clientes, impostos a recuperar, despesas antecipadas, fornecedores, salários a pagar, impostos a pagar. Ou seja, itens do ativo e passivo (normalmente circulantes) ligados com as atividades operacionais da empresa. No caso, teremos que ver qual foi a variação de cada conta de um período para o outro. Por exemplo, vamos supor a conta de clientes. Imaginemos que essa conta estava em 2017 com saldo de R$ 10.000 e em 2018 fechou com saldo de R$ 15.000, ou seja, houve um aumento de R$ 5.000. Será que isso foi bom ou ruim para o caixa? Bom, podemos entender que se houve aumento nessa conta é bem provável que uma dessas duas hipóteses tenha ocorrido: 1) a empresa vendeu mais a prazo do que a vista; 2) a empresa não recebeu o saldo de clientes do ano anterior além de ter vendido mais a vista. Independente de qual das duas foi a realidade, temos que isso não é bom pro caixa, pois não houve a entrada de recursos em dinheiro na empresa. Então, quando houver o aumento de um ativo operacional vamos considerar que isso é negativo para o caixa.

Vamos imaginar o inverso agora: a empresa estava em 2017 com R$ 8.000 em clientes e fechou 2018 com R$ 5.000, ou seja, houve uma diminuição. Logo, duas coisas podem ter acontecido: 1) O cliente pagou; 2) A empresa vendeu mais a vista do que a prazo. Assim, entende-se que independente do que realmente ocorreu, o impacto foi positivo para o caixa da empresa. Assim, quando houver uma diminuição no ativo operacionais vamos entender que isso foi positivo para o caixa.

Dessa forma, temos a seguinte esquematização:

Se ATIVO OPERACIONAL O CAIXA

Se ATIVO OPERACIONAL O CAIXA

Agora, vamos para o passivo operacional. Imaginemos o fornecedor. Se a empresa fechou 2017 com um saldo nessa conta de R$ 7.000 e terminou 2018 com saldo de R$ 10.000 houve então uma variação de aumento no valor R$ 3.000, mas o que isso representa para o caixa? Mais uma vez temos duas hipóteses: 1) A empresa não pagou o fornecedor, 2) A empresa comprou mais mercadorias a prazo. Seja lá o que de fato aconteceu, a verdade é que a organização conseguiu evitar mais saída de caixa. Dessa forma, para o caixa isso foi algo bom. Assim, sempre que houver um aumento no passivo operacional, há para o caixa um impacto positivo.

Mas, se a situação for o inverso: a empresa fechou 2017 com saldo no fornecedor de R$ 12.000 e terminou 2018 com R$ 9.000, então houve uma diminuição de R$ 3.000. E por que isso? 1) Ou a empresa pagou o fornecedor; 2) Além de pagar ao fornecedor a empresa comprou mais a vista do que a prazo. Assim, essa diminuição do passivo operacional significa um aumento nas saídas do caixa, ou seja, para o caixa não é algo tão bom assim. Então, sempre que houver uma diminuição no passivo operacional, há um impacto negativo no caixa da empresa.

Para uma melhor visualização segue o esquema:

Se PASSIVO OPERACIONAL O CAIXA

Se PASSIVO OPERACIONAL O CAIXA

Para encerrar vamos resolver uma questão do concurso da FCC aplicada em 2014 para a SEFAZ do Rio de Janeiro:

Determinada empresa comercial apresentava as seguintes demonstrações contábeis (valores expressos em reais):

Ativo Circulante

31/12/2012

30/03/2013

Passivo circulante

31/12/2012

30/03/2013

Disponível

133.000,00

254.000,00

Fornecedores

55.000,00

20.000,00

Duplicatas a receber

26.000,00

74.000,00

Salários a pagar

13.000,00

19.000,00

Estoques

20.000,00

12.000,00

Adiantamento de clientes

15.000,00

10.000,00

Seguros pagos antecipadamente

-

5.000,00

Dividendos

-

15.000,00

Passivo não circulante

Empréstimos a pagar

100.000,00

120.000,00

Ativo Não circulante

-

Terreno

154.000,00

Patrimônio líquido

máquina

-

120.000,00

Capital social

150.000,00

210.000,00

Depreciação acumulada

-

- 10.000,00

Reserva de lucro

-

61.000,00

TOTAL DO ATIVO

333.000,00

455.000,00

TOTAL PASSIVO + PL

333.000,00

455.000,00

Receita com vendas

580.000,00

Custo dos produtos vendidos

- 348.000,00

Lucro bruto

232.000,00

Despesas operacionais

Despesa com salários

- 60.000,00

Depsesa com seguros

- 9.000,00

Despesa com depreciação

- 10.000,00

Prejuízo na venda do terreno

- 23.000,00

Lucro antes do resultado financeiro

130.000,00

Despesa financeira

- 12.000,00

Lucro antes do IR e CSLL

118.000,00

Despesa com IR e CSLL

- 42.000,00

Lucro Líquido

76.000,00

Com base nestas demonstrações contábeis e considerando, ainda, que os juros não foram pagos e foi recebido o valor da venda de terreno não destinado a aluguel, o fluxo de caixa gerado pelas Atividades Operacionais no primeiro trimestre de 2013 foi

A) R$ 42.000,00.

B) R$ 121.000,00.

C) R$ 98.000,00.

D) R$ 132.000,00.

E) R$ 19.000,00.

Primeiramente, quais os elementos de resultado que não afetam o lucro? Despesa com depreciação, despesa financeira (já que estão NÃO foi pago). Além disso temos que incluir na conciliação o prejuízo na venda do terreno, conforme discutimos anteriormente. Todos esses itens por serem DESPESAS serão SOMADAS na DFC pelo método indireto.

E quais contas vamos considerar para fins de variação dos ativos e passivos operacionais? Duplicatas a receber, estoques, seguros pagos antecipadamente, fornecedores, salários a pagar, adiantamento de clientes.

Vejamos o seguinte:

  • Clientes tinha um saldo inicial de R$ 26.000 e passou para R$ 74.000, ou seja, aumento de R$ 48.000, mas se o ATIVO OPERACIONAL aumentou então o CAIXA diminui.
  • Estoque tinha um saldo inicial de R$ 20.000 e passou para R$ 12.000, ou seja, diminuição de R$ 8.000, mas se o ATIVO OPERACIONAL diminuiu então o CAIXA aumentou
  • Seguros pagos antecipadamente tinha saldo inicial ZERO e passou para R$ 5.000, ou seja, aumento de R$ 5.000. Se o ATIVO OPERACIONAL aumentou então o CAIXA diminui
  • Fornecedores tinha um saldo inicial de R$ 55.000 e passou para R$ 20.000, ou seja, diminuição de R$ 35.000, mas se o PASSIVO OPERACIONAL diminuiu então o CAIXA diminuiu também
  • Salários a pagar tinha um saldo inicial de R$ 13.000 e passou para R$ 19.000, ou seja, aumento de R$ 6.000. Se o PASSIVO OPERACIONAL aumentou então o CAIXA aumentou também
  • Por fim, Adiantamento de clientes tinha um saldo de R$ 15.000 no primeiro período e fechou o segundo com total de R$ 10.000, ou seja, diminuição de R$ 5.000. Se o PASSIVO OPERACIONAL diminuiu então o CAIXA diminuiu também

Dessa forma, temos as atividades operacionais pelo método indireto conforme esquematizado a seguir:

Atividades Operacionais

Lucro líquido R$ 76.000

Depreciação R$ 10.000

Prejuízo na venda de ativo imobilizado R$ 23.000

Despesa financeira não paga R$ 12.000

Var. clientes (R$ 48.000)

Var. Estoque R$ 8.000

Var. Seguros pagos antecipadamente R$ 5.000

Var. Fornecedores (R$ 35.000)

Var. Salários a pagar R$ 6.000

Var. Adiantamento de Clientes R$ 5.000

Saldo operacional 42.000

Então é isso pessoal! Como vocês podem ver o conteúdo é um pouco extenso, mas nada impossível de ser aprendido! Durante os próximos dias discutiremos a temática com questões que facilitarão o treino de vocês!


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